João Saldanha foi técnico da seleção brasileira até alguns meses antes da Copa de 1970, quando foi substituído por Zagallo. Dentre os seus feitos, que culminaram com a sua demissão, está o fato de que ele não iria convocar Pelé porque, segundo ele, o jogador teria um problema sério de visão. Até aquele momento, Pelé nunca havia feito um exame oftalmológico. O técnico acreditava que se um jogador ficava muito tempo em um determinado segmento do campo era porque ele não enxergava direito. Esta é uma das muitas histórias que fazem parte do repertório brasileiro de participação em Copas do Mundo. Neste ano, sob o comando de Dunga, o Brasil estréia na Copa do Mundo no dia 15 de junho, em Joanesburgo, contra a Coréia do Norte.
Saúde ocular do jogador de futebol
Mas afinal, quais são os pré-requisitos necessários para que o jogador enxergue bem o que se passa no campo, durante os 90 minutos de jogo? “Para ter uma rápida reação em condições dinâmicas, os jogadores precisam de percepção periférica, acuidade visual dinâmica e uma boa coordenação tronco-pé”, afirma o oftalmologista Virgilio Centurion, diretor-clínico do Instituto de Moléstias Oculares (IMO). Para ser competitivo nos campos de futebol, o jogador precisa garantir o melhor desempenho possível de todo o seu corpo, inclusive dos olhos. Segundo Centurion, são competências visuais fundamentais: a sensibilidade ao contraste, que permite que o jogador veja detalhes finos em situações de variação de luz e de contraste, como os contornos do campo de futebol. A acuidade visual dinâmica, que faz com que a visão do jogador permaneça tão nítida quando ele corre, como quando está parado. E por fim, a flexibilidade focal, que mantém nítido o foco na bola. “Pela complexidade da profissão e pela responsabilidade que carregam, o exame oftamológico preventivo e corretivo deve ser uma prática rotineira para os jogadores de futebol”, defende o oftalmologista do IMO, Eduardo De Lucca.
Segundo o médico, um dos fatores importantes para o bom desempenho do jogador de futebol é que ele eduque sua visão. “No futebol, o chute é feito com ‘os olhos’, que enviam a mensagem ao cérebro, que comanda os músculos e determina o que o corpo deve fazer“, afirma De Lucca. “O reflexo se apresentará mais rápido e a jogada poderá ser mais criativa, quanto mais o jogador de futebol se atentar para a importância da visão periférica”, explica o médico, que também recomenda que os atletas pratiquem outros esportes que exijam rapidez no processamento visual, como tênis de mesa, squash e a prática de embaixadinhas.
Cuidados com os olhos
As lesões oculares decorrentes da prática de esporte são mais comuns do que imaginamos. No Brasil, não há estatísticas oficiais. Entretanto, é bom reforçar que a responsabilidade de segurança na prática esportiva cabe ao atleta, ao treinador, ao oftalmologista – nos casos de trauma ocular – e ao médico do esporte. “A bola de futebol pode causar lesões na órbita, nas pálpebras ou no globo ocular. O contato físico entre os jogadores também causa lesões”, lembra De Lucca. Temos exemplos de jogadores que apresentaram contusões oculares sérias, como Tostão, que teve descolamento de retina, e Viola, com fratura de órbita.
Condições como alto grau de miopia, trauma ocular prévio, infecção e antecedente de cirurgia ocular aumentam o risco de dano causado por trauma. “Uma boa saída é voltar a jogar usando óculos apropriados para a prática de esportes. As lentes e armações para os óculos esportivos devem apresentar alta resistência ao impacto, além de proteção contra raios ultravioleta A (UVA) e ultravioleta B (UVB). Essas lentes precisam ter espessura mínima de 3 mm e central de 1 mm para fornecer proteção adequada. A qualidade óptica também é importante, em especial nos esportes que exigem precisão, como o futebol”, explica De Lucca.