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Miguel Jorge – ministro do Desenvolvimento
   
     
 


12/07/2009

Miguel Jorge – ministro do Desenvolvimento
"Vamos ter de agir contra a Argentina"


roberto castro/ag. istoé

O ministro do Desenvolvimento, Miguel Jorge, está eufórico com os resultados da redução do IPI sobre os veículos, linha branca e outros produtos e acha que uma redução permanente dos impostos deve ser tratada na discussão da reforma tributária no Congresso Nacional.

Se no mercado interno os números são bem animadores, o mesmo não pode ser dito da questão externa - especialmente a relação bilateral com a Argentina, um dos principais parceiros comerciais do País. Miguel Jorge defende uma reação dura do governo brasileiro às medidas protecionistas tomadas pelo governo de Cristina Kirchner.

"Temos que tomar alguma medida. Tem que ter uma medida de repressão. Não vamos aceitar", disse ele em entrevista à DINHEIRO. Leia a seguir os principais trechos.

 

"É mais fácil vender no Oriente Médio ou na África do que em Londres ou Paris"

Lula, em missão comercial na África, com Muamar Khadafi

DINHEIRO - A balança comercial manteve o superávit no primeiro semestre, mas com queda na importação. Sinal de um mercado interno ruim. Já a exportação teve um desempenho um pouco melhor. Qual é o cenário para os próximos meses?
Jorge
- Não acredito que vá dobrar o superávit. Até porque, se a economia começa a retomar, há um aumento também da importação. Uma boa parte da redução da importação aconteceu por causa da diminuição de compra de máquinas, equipamentos e insumos. Isso ocorreu porque caiu a atividade econômica interna.

DINHEIRO - O que o governo pretende fazer em relação ao real forte?
Jorge
- Não posso falar isso em público porque fica todo mundo bravo. Mas o dólar passou dos R$ 2,40 para R$ 1,90 no passado e as exportações continuaram aumentando. Este ano elas caíram, mas já começam a se recuperar um pouco. As exportações de manufaturados caíram muito, mas estão concentradas em poucos setores, como metalmecânico, siderúrgico, caminhões, automobilístico. A venda de caminhões chegou a cair 50% porque eles eram muito exportados para as matrizes na Europa. Isso só vai mudar se a Europa se recuperar.

DINHEIRO - Vai ser em 2010 ou em 2011?
Jorge -
Nos EUA é mais provável que seja em 2010, mas não vejo isso na Europa. Os países europeus são muito mais maduros, por isso têm um consumo menor. Num mercado maduro como o da França, Alemanha e Inglaterra, todo mundo tem DVD, televisão, forno de microondas e forno elétrico. Ninguém vai trocar um forno porque teve redução de imposto. No Brasil, há uma enorme quantidade de gente que começou a entrar no mercado de consumo que não tinha televisão, liquidificador, forno ou máquina de lavar roupa. É gente que está comprando sua primeira máquina. Na Europa não há uma casa sem energia. Aqui nós tínhamos três milhões de casas sem energia. Veio o "Luz para Todos" e trouxe esses novos consumidores.

DINHEIRO - Como será o Eximbank brasileiro e quando sai?
Jorge
- Estamos trabalhando ainda na sua formatação.

DINHEIRO - O que muda? Em que medida vai ajudar as exportações?
Jorge -
É importante porque ele vai reunir ações que estão hoje dispersas. A diferença é que vamos trabalhar para ter mais orçamento. Será uma subsidiária do BNDES, que vai poder financiar vendas para o Exterior, o que hoje não é permitido. A ideia do Eximbank surgiu no Congresso. Mas não é nova. Tem 20 anos. Quando eu estava na Volkswagen já se falava nisso. Naquela época existiam poucas empresas exportadoras. A maioria, multinacionais. Mas foi aumentando. Por que o empresário brasileiro não tem a tradição de exportar? Porque durante muito tempo houve proibição das importações e um enorme mercado interno blindado. Por isso nós não criamos e disseminamos uma cultura exportadora.

DINHEIRO - Em geral são grandes empresas. Há alguma expectativa de o governo ampliar esse campo para pequenas e médias empresas?
Jorge -
Com a crise, ficamos um pouco atrapalhados. Mas, entre os quatro objetivos estratégicos da nossa política industrial, está previsto aumentar em 10% o número de pequenas e médias empresas exportadoras.

DINHEIRO - O sr. tem participado de muitas missões comerciais. Elas têm dado resultado?
Jorge
- São mercados pequenos, mas juntos formam um mercado grande. Líbia, Marrocos, Tunísia e Argélia formam juntos um pedacinho do Brasil. É como pegar o Sudeste ou Sul do Brasil. Você não só consegue uma venda direta dos produtos, mas também a venda da ideia de um país importante para investimento. Por exemplo, um mês depois da nossa visita aos países do Magreb, esteve no Brasil o vice-primeiro-ministro da Líbia. Ele assinou um memorando para o investimento de US$ 500 milhões em agrobusiness no sul da Bahia. Há construtoras brasileiras que vão assinar novos contratos a partir dessa visita. É difícil saber quanto as empresas privadas venderam e para quem elas venderam. São dados muitos esparsos. Por exemplo, estivemos em uma missão na Venezuela no final de 2007. Levamos muitas empresas médias. Uma delas, que comercializa leite e na época não exportava, passou a vender para a Venezuela e no ano passado exportou US$ 200 milhões para o país. Na nossa última missão na África, várias empresas venderam muito.

 

"Não deveria haver imposto na exportação, mas o Gerdau exagera quando reclama"

Jorge Gerdau Johannpeter, dono do grupo Gerdau

DINHEIRO - Como são escolhidos os países para receberem missões?
Jorge -
São considerados os mercados ainda não tomados pelos grandes fabricantes. É mais fácil vender na África, Oriente Médio e América do Sul do que vender em Paris ou Londres. A procura por essas missões aumentou nos últimos tempos. Agora, quando anunciamos uma missão, em uma semana preenchemos as vagas. Antes, tínhamos que convidar. Por exemplo, a América do Sul. Há cinco anos, o fluxo comercial do Brasil com a Venezuela era de US$ 1 bilhão. No ano passado, exportamos US$ 5,5 bilhões. Nós levamos as empresas até lá. Cria-se uma relação política com os governos, que acabam tratando as empresas do Brasil de um jeito diferente e especial.

DINHEIRO - Então, a relação política é que faz a diferença?
Jorge
- Quem compra na China, na África, na Venezuela e em Cuba são os governos.

DINHEIRO - Por isso o presidente Lula viaja tanto?
Jorge -
Não só. Mas também para ter influência geopolítica.

DINHEIRO - O que o governo pretende fazer em relação à Argentina, que aumentou o protecionismo?
Jorge -
Temos que tomar alguma medida, que está sendo analisada. Tem que ter uma medida de repressão. Não vamos aceitar.

DINHEIRO - Ainda no campo externo, empresários, como Jorge Gerdau, reclamaram do último pacote do governo. Disseram que foi perdida a última chance de desoneração das exportações. Há alguma chance de uma redução permanente de impostos?
Miguel Jorge -
É o que deveria ter. Nenhum lugar do mundo tem imposto na exportação. Mas acho que o Gerdau exagera um pouco. O drawback, a devolução de impostos nos insumos, é pouco usado por ele, por causa do setor em que ele atua, mas vale para outros exportadores. Para ter uma ideia, toda a ração consumida no frango exportado é isenta de impostos através do drawback.

DINHEIRO - O corte será permanente?
Jorge
- Temos que tratar isso na reforma tributária, fazendo alguma coisa mais ampla.

DINHEIRO - Ela pode ser votada ainda neste governo?
Jorge
- Eu estava desencantado. Mas comecei a ver um novo esforço para ver se aprovam.

DINHEIRO - O projeto que está lá é satisfatório?
Jorge -
Não é bom. É o possível. O empresário sabe que muitas vezes não dá para fazer tudo que precisa e quer que seja feito. Vai fazendo aos poucos. Assim é o caso da reforma tributária. Se não pode fazer uma reforma profunda, vamos fazer o que é possível. É melhor do que não ter nada.

DINHEIRO - Que mudanças essa reforma possível poderia promover para o setor produtivo?
Jorge
- Se conseguirmos colocar o IVA, Imposto sobre Valor Agregado, no Brasil, já seria bom. Nossa complexidade tributária obriga empresas a manter departamentos só para calcular tributo. Tem também a substituição tributária. Alguns Estados antecipam a cobrança para a produção porque não fiscalizam na ponta.

DINHEIRO - É possível aprovar o IVA na reforma tributária?
Jorge -
Claro. O IVA é usado em vários países: Estados Unidos, França, Alemanha. O grande problema é a resistência dos governadores. O país tem que ter essa discussão. Tem que avançar.

DINHEIRO - E o Executivo está disposto a bancar essa mudança?
Jorge -
Na época em que a reforma foi ao Congresso, não foi possível porque havia muito coisa a discutir. Agora há uma determinação política, mas o Congresso está paralisado.

DINHEIRO - É uma prioridade?
Jorge -
Sim. Talvez não saia este ano, mas esperamos que saia até o fim desse governo.

DINHEIRO - O Brasil sobreviveu à crise até agora. Como o sr. vê o cenário da indústria brasileira a partir de agora?
Jorge
- Alguns setores da indústria chegaram a trabalhar acima da sua capacidade. A indústria automobilística trabalhava sábado, domingo e feriados, em dois e até três turnos. Isso não se sustenta em nenhuma economia do mundo.

DINHEIRO - Mas isso força novos investimentos.
Jorge -
Na indústria automobilística eles aconteceram. Mas esse processo deveria ser mais, digamos, escalonado. Não em dois anos dar saltos de produção que obriguem a produzir acima da capacidade nominal. Foi o que houve no Brasil.

DINHEIRO - A utilização da capacidade instalada está num bom nível?
Jorge -
Em relação ao ano passado, está abaixo do que deveria. Está por volta de 80%. Já esteve em 74%. A cada mês há uma evolução positiva. Devemos chegar ao fim do ano próximo de uma capacidade instalada em 84%. Se esse quadro de consolidação for se confirmando, será retomada a iniciativa de se fazer investimentos.

Fonte: ISTOÉ Dinheiro
Autor: Denize Bacoccina e Luciana de Oliveira
Revisão e edição: de responsabilidade da fonte

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