Desde a última reunião do Comitê de Política do Banco Central (Copom), no último dia 31 de agosto, quando a taxa básica de juros (Selic) foi reduzida de 12,5% para 12% ao ano há uma expectativa, principalmente por parte dos consumidores: a queda dos juros bancários. Diferentemente do que ocorreu em outras ocasiões — em que o BC subiu os juros e a correção nas taxas ao consumidor era imediata — desta vez, a maioria dos bancos continua em cima do muro. De seis bancos pesquisados pelo GLOBO, apenas Bradesco e Banco do Brasil repassaram o corte da Selic.
O Banco do Brasil informou, ontem à noite, que, desde o último dia 9, está valendo a redução equivalente a 0,5 ponto percentual ao ano para todos os seus financiamentos, mas não informou as taxas caso a caso. O Bradesco anunciou uma redução, no dia 6, uma semana após a decisão do Copom. Entre as medidas, a taxa de juros mínima do crédito pessoal recuou de 2,72% para 2,68% ao mês, e a máxima, de 6,37% para 6,33% ao mês. Os bancos Itaú Unibanco, Santander, HSBC e a Caixa Econômica Federal ainda avaliam o cenário econômico para decidir se alteraram ou não as taxas.
De acordo com o diretor da Associação Nacional de Executivos de Finanças, Administração e Contabilidade (Anefac) Miguel de Oliveira, esta inédita inércia dos bancos frente à mudança da Selic deve ser analisada em conjunto com a crise nas economias mundiais e a desaceleração do crescimento do país:
"O cenário agora é diferente. Quando os bancos pretendem alterar taxas, sempre olham o passado e o futuro. Antigamente, eles repassavam a taxa imediatamente porque viam que o país estava crescendo rápido, não havia tanto risco de inadimplência. Agora, os bancos olham o futuro do crédito e veem uma crise externa muito forte e um freio interno, por isso estão temerosos", analisa.
Oliveira explica também que a redução pode estar demorando porque, de acordo com pesquisa da Anefac, os bancos já teriam reduzido os juros no mês de agosto, antes da decisão do Copom.
Para o economista Roberto Zentgraf, do Ibmec- RJ, o repasse não é tão significativo para os bancos, já que a redução foi de apenas 0,5 ponto percentual.
"Eu acredito que os bancos não repassaram porque no Brasil existe uma mentalidade de lucros a curto prazo e, apesar da situação estar extremamente desfavorável para o consumidor, com o IPCA em alta e, consequentemente, a inflação, os bancos conseguem recompor a margem de lucro com estes juros altos. Não há interesse nem pressão para fazer este repasse", diz