O delegado Romeu Tuma é um ícone dentro da classe dos policiais. Iniciou a carreira, como muitos, ingressando no quadro de investigadores. Esforçado, estudou, prestou concursos e serviu a polícia paulista numa época conturbada da vida nacional. Seu profissionalismo o levou a ocupar posições de destaque e altíssimas responsabilidades mas, como testemunham os que com ele conviveram, nunca extrapolou, tendo na lei vigente a sua diretriz básica de ação. Quando foi chefe da polícia política, agiu com energia, mas nunca adotou comportamento vingativo, muito comum em figuras da época. Tanto que seus ex-presos políticos, entre eles o próprio presidente Lula, não se cansam de elogiar a sua postura de então.

Um profissional com a visão além de seu tempo, Tuma teve a sensibilidade para compreender que o Brasil vivia a exceção e não a regra política. Com isso, portou-se de maneira a cumprir as tarefas que o Estado lhe delegava, mas dentro dos ditames da lei e da técnica. Com isso, adquiriu o respeito necessário para, nas fases de transição, ser guindado à chefia da Policia Federal inicialmente em São Paulo e, depois, em nível nacional. Mas também foi feito dirigente da Interpol. Seus casos, como policial, são incontáveis e certamente renderão muito para a história da política e da segurança pública nacionais.

Na aposentadoria – que rejeitava por ainda ter vigor para continuar servindo à causa da segurança pública – o delegado fez-se senador. Mas sua experiência de policial lhe conferiu um peso e respeito extraordinários dentro do Congresso Nacional. Tanto que, esses anos todos, foi o corregedor do Senado, com a tarefa de “cortar da própria carne” ao apurar agravos cometidos por colegas. E desempenhou a função com a mesma naturalidade e comprometimento da carreira policial.

Os registro que sobrarão no seu obituário, conferem a Tuma uma estatura que ele próprio, talvez, nunca tenha imaginado para si. Sua jornada serve de exemplo para todos os policiais brasileiros e até do exterior. A ação profissional lastreada nas leis vigentes e na técnica de investigação e apuração dos eventos o conduziu ao status de policial ético, capaz e eficiente. Tudo isso contribuiu para o Brasil e, inclusive, para o seu reingresso na normalidade democrática. Tanto é que o senador recebe agora as mais importantes homenagens vindas de todos os setores da sociedade e de diferentes correntes ideológicas, inclusive daquelas que teve, em razão da função, a tarefa  de combater.

Romeu Tuma – é importante dizer – é também um importante exemplo de dignidade e trabalho do povo árabe que, nos séculos 19 e 20, veio emprestar sua força e capacidade para a construção de São Paulo e de importantes regiões brasileiras. Mesmo após a morte, sua biografia ainda poderá contribuir em muito para a vida dos policiais de todas as instituições e a todos aqueles que não abrem mão da construção de uma sociedade ética, correta e justa. Estudá-la só poderá fazer bem, a qualquer cidadão brasileiro...